A MALDIÇÃO DA AMARELINHA: DO ORGULHO NACIONAL À IDENTIDADE GOLPISTA

A camisa canarinho da nossa seleção sempre foi um orgulho de todo brasileiro até pouco tempo atrás. Foram inúmeras as vezes que fiz questão de usá-la em passeios e viagens pela Europa, Ásia, enfim, pelo mundo. Era uma forma de orgulhosamente mostrar ser brasileiro e também de reconhecimento entre nós. Mas, é verdade, não precisamos do uniforme da seleção para nos sentirmos brasileiros. Contudo, na falta de todo o resto, é o futebol que nos representa.

Triste é constatar que esse orgulho já não temos mais. A partir de 2018, o cenário mudou drasticamente. Boa parte dos autoproclamados “patriotas” adotaram o hábito de vestir a camisa amarela em manifestações golpistas, atentando contra a democracia, pedindo intervenção militar, e a transformaram num símbolo da direita, dos conservadores, dos anti-petistas e bolsonaristas.

O uso da camisa da seleção e das cores da bandeira brasileira em protestos deixou de representar a maioria dos brasileiros. Os símbolos viraram uniforme dos manifestantes como forma de ressaltar um falso patriotismo e desvincular-se de partidos políticos. Sequestrada pelas hordas bolsonaristas em manifestações de rua e na tentativa golpista de 8 de janeiro, a amarelinha perdeu seu valor esportivo. Tornou-se uma carteira de identidade dos aliados do ex-presidente, hoje inelegível.

Houve uma tímida tentativa de recuperar o uniforme como vestimenta de todos os brasileiros na Copa do Mundo de 2022. Embora parte da torcida da esquerda (e da frente ampla que elegeu Lula) tenha tentado usá-la, a retomada não vingou. Hoje, esta camisa está manchada pela política. Representa um partido, o “partido” de Bolsonaro. Que, curiosamente, do ponto de vista institucional, não tem partido. Na prática, ele tem: é o partido da camisa amarela, que foi amaldiçoada, devido o uso, por golpistas, fascistas e falsos patriotas em porta de quartéis, manifestações da extrema direita e na espera das intermináveis 72 horas..

Agora, está difícil livrar a camisa amarela da maldição do bolsonarismo. O uniforme reserva, azul, disfarça um pouco, mas não convence. Adotada pela caterva fascista, a camisa amarela que nos trouxe tantas alegrias, agora virou instrumento de desprezo de muitos brasileiros. E essa maldição reflete diretamente na seleção brasileira. O Brasil não se classificou para os Jogos Olímpicos de Paris, é sexto nas eliminatórias e acumula a queda precoce na Copa América. Além disso, perdeu a última Copa América dentro de casa e não vence uma desde 2019, curiosamente, ano em que Bolsonaro tomou posse.

Quase impossível a seleção se livrar da maldição bolsonarista que ficou impregnada na amarelinha. A camisa da seleção brasileira já foi um símbolo da alegria do nosso povo. Usávamos com alegria para torcer, vibrar e amar o país, mas foi amaldiçoada. Meu palpite é aposentar, por um tempo, a camisa sequestrada por aquela legião que acampou na frente dos quartéis à espera do golpe. Deixa a naftalina da história desinfetar o uniforme.

A “Pátria em chuteiras”, como diria Nelson Rodrigues, vai muito bem de azul ou no branco utilizado até 1950. Ou, quem sabe, uma bela novidade inventada pelo fabricante. Segundo a própria FIFA: “O amarelo e o verde do Brasil ficaram confusos na política, já que a camisa foi apropriada por apoiadores do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro”.

Portanto, torcer e vencer com essa amarela, esquece; nem a pau, seu Dorival.

Marco Correia
Advogado, pós graduado em Ciências Políticas e História Geral.

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